Mini satanás dos papais <3

Aquele era o primeiro jogo de Lena depois que eles haviam se casado, e ele não podia estar mais feliz por ser um jogo doméstico, assim ele podia finalmente levar Morgana para ir vê-la jogar. A menina estava muito animada para ver pela primeira vez uma partida de Quadribol, e não uma partida qualquer, mas uma em que sua mãe jogaria. Char estava indo também, e os três chegaram bem antes do início da partida, para pegarem melhores lugares, bem no alto, e compraram um Onióculos para acompanhar a partida ainda mais de perto. Vibraram quando os jogadores entraram em campo, e ele deixou Morgana usar o Onióculos, enquanto ele próprio acompanhava fixado no pontinho azul que era Lena. Torciam fervorosamente, pulando e gritando toda vez que Lena rebatia um balaço ou que o time dela fazia algum ponto. Até o momento em que ela se afastou, e teve que ser defendida de um balaço pelo colega. Lestrange pediu então o Onióculos a Morgana, e quando ela o entregou ele fixou seu olhar na esposa, agora podendo vê-la com detalhes, percebia que ela não parecia nada bem, estava pálida e mal parecia capaz de segurar-se na vassoura. A preocupação encheu seu peito, e assim que foi decretada uma pausa no jogo, ele deixou morgana no colo de Charlotte e pediu que elas esperassem ali. Saiu então abrindo caminho por entre as pessoas, descendo as escadas das arquibancadas numa velocidade quase impossível, até chegar no consultório do estádio. Inicialmente, não queriam deixar ninguém entrar, mas quando ele disse que era o marido dela a porta se abriu. - Lena! - ele correu para o lado dela, que estava sentada sob uma maca enquanto a medibruxa fazia alguns testes com feitiços. - O que aconteceu? - perguntou, segurando a mão dela, a preocupação estampada em seu rosto.

Ela lhe pedia para não se preocupar, mas era inevitável. Elaena era muito saudável, raramente passava mal, na verdade ele não se lembrava de já tê-la visto doente, exceto por um inverno em que ela pegou um resfriado, facilmente resolvido por uma poção simples, e nada além disso. A medibruxa também parecia, se não preocupada, ao menos curiosa, se seu cenho franzido era alguma indicação. Apesar da preocupação, ele não deixou de apreciar a oportunidade de vê-la tirando a camisa, e ele observou quieto de forma pouco característica enquanto a mulher fazia seu trabalho. Até ela levantar aquela pergunta, e a resposta de Lena o fez arregalar os olhos. Ele também não havia prestado atenção no fato de que ela estava a tanto tempo sem menstruar, e agora que reparava mais em seu corpo, ela estava com uma leve, quase imperceptível protuberância na barriga. A possibilidade que aquilo trazia era encantadora demais para deixar-se afetar de uma vez por ela, então sua voz saiu controlada, quase hesitante: - Doutora, ela está… grávida? - perguntou, seu coração retumbando no peito enquanto esperava pela resposta.

Seu coração saltou para a boca quando a medibruxa confirmou sua suspeita, teriam mais um membro na família, uma criança com seu sangue e o de Lena! Merlin, aquilo seria tão maravilhoso que ele mal podia conceber, mas Elaena não parecia estar sentindo a mesma felicidade que ele, na verdade ela parecia chocada e descrente, e a reação dela fez o sorriso em seu rosto ser substituído por cenhos franzidos numa expressão de estranhamento. - Como assim, não pode ter filhos? - perguntou, cauteloso, tentando entender o estado de sua esposa, um pouco assustado por vê-la pela primeira vez agir com grosseria com uma pessoa estranha. Será que ela simplesmente supusera que não podia ter filhos, depois de tanto tempo juntos sem uma gravidez, ou em algum momento ela teve algum veredicto sobre aquilo e não o contou? Ele sempre pensara que ela tomava poções anti-concepcionais, nunca havia se atentado para aquilo, pois eles nunca haviam conversado sobre tentar ter filhos, especialmente depois de Morgana, mas nunca ele poderia ter imaginado uma situação tão estranha quanto a que estava passando naquele momento.

Arregalou os olhos com a história dela, incapaz de reagir imediatamente. No começo do namoro, ele ouvira direito? A medibruxa afirmou, porém que ela estava mesmo grávida, Lestrange sabia que poção era aquela usada, suas chances de falhar eram quase nulas, e o líquido azul indicando que teriam um menino fez seu coração saltar novamente, mas conteve-se, ouvindo a explicação da medibruxa sobre o fato da gravidez ser arriscada. Assim que se viram sozinhos, ele nem teve tempo de fazer nada antes que Elaena se levantasse e fosse até a lixeira mais próxima para esvaziar o estômago, e em um segundo ele estava ao seu lado, segurando o cabelo dela para cima. Esperou que ela vomitasse tudo que tinha para vomitar, e então a conduziu para que se sentasse novamente na maca antes de ir pegar um copo de água para ela. O silêncio na sala era pesado como o clima entre eles nunca fora, mas ele não estava inclinado a aliviar os ânimos, não sabia se seria capaz disso naquele momento. Esperou que ela bebesse a água e devolveu o copo vazio para onde o achara antes de voltar e sentar-se ao lado dela. - Elaena, precisamos conversar. - disse por fim, sua voz e suas expressões tão sérias que nem ele mesmo se reconhecia naquele momento. - Por que nunca me contou isso?

Escutou em silêncio tudo que ela tinha a dizer, ela lhe devia aquela explicação, e ele lhe daria todo o espaço que precisasse para esclarecer tudo. Seu coração se partia ao ver as lágrimas descendo por seu rosto, e as teria limpado se ela não o tivesse feito primeiro. Apertou sua mão quando ela a segurou, e ao fim de suas palavras levou a mão livre para seu rosto, fazando uma carícia suave. - Lena… meu amor… Nunca mais me esconda algo por medo de me magoar, ouviu? Entendo que quando você descobriu, tinha todos os motivos do mundo para não contar. Estavamos apenas no começo do nosso relacionamento, e no começo não temos mesmo muita certeza do quanto vai durar, não temos certeza das nossas expectativas. Estava certa, não fazia sentido contar então, e eu entendo isso. Mas depois, quando já estávamos juntos há mais tempo? Se você teve um pedaço de si arrancado com aquela notícia, devia ter me contado, para que eu te ajudasse a curar essa ferida. É pra isso que estou aqui, você sabe, pra compartilhar suas dores e te ajudar a carregar seus fardos. - soltou então sua mão para segurar o rosto dela com ambas as mãos, aproximando-se um pouco mais, seus olhos penetrando fundo nos dela. - Você entende isso, Elaena? Sou seu companheiro, caminhamos juntos, dividimos as alegrias e as tristezas, nos apoiamos um no outro. Nunca mais tente me poupar de algo, prometa isso pra mim. - seu tom era sério, mas não era duro, pelo contrário, sua voz transmitia um carinho tão profundo quanto seus olhos demonstravam.

Sentiu uma estranha dor em seu peito com a forma como ela se xingava e se desculpava, e correspondeu imediatamente ao abraço, apertando-a com força contra si quase como se quisesse fundir suas almas. - Claro que desculpo, e você não foi completamente estúpida, não diga isso. Talvez só um pouquinho estúpida. - tentou brincar para aliviar o clima. - Mas todo mundo erra às vezes, eu sei que é raro pra seres quase perfeitos como você, mas acontece. Só não quero que você sofra sem que eu esteja do lado para te abraçar assim. - falou, apertando-a com ainda mais força ao final da frase para enfatizar. Relaxando o abraço, pegou novamente seu rosto, dessa vez para limpar suas lágrimas. - Mas não precisa mais sofrer agora, esse pedaço que foi arrancado vai ser reposto. Lena, vamos ter um filho! - falou, o sorriso finalmente voltando para seu rosto.

Apenas sorriu quando ela o elogiou daquela forma, já mais aberto a aceitar que talvez fosse realmente aquilo tudo, de tanto que ela falava. Não que se achasse a melhor pessoa do mundo agora, tinha consciência de seus muitos defeitos, mas estava começando a aceitar que era, no geral, bom para Elaena, e isso era o bastante para deixá-lo contente consigo mesmo. Ela ainda não demonstrou a animação que ele imaginaria ao falar que teriam um filho, mas logo explicou porque, e ele assentiu e lhe deu um sorriso compreensivo. - Eu também não faço muita ideia do que isso significa, pra ser sincero. A não ser pelo fato que nossa família vai crescer mais, e um serzinho muito esquisito que resultou da mistura de nós dois vai surgir no mundo. - falou, levando uma mão para o ventre dela, fazendo uma carícia que o deixou completamente arrepiado por motivos que ele nem sabia definir. - Acho que significa que vamos ter um bocado de trabalho, se o que a medibruxa falou é verdade, precisamos aprender a como lidar com uma gravidez, e ainda mais uma de risco, mas não deve ser tão difícil. Se a Char que é uma maluca conseguiu parir um bebê saudável, acho que nós também vamos dar conta. Vamos descobrindo no meio do caminho. - brincou, e então lembrou-se que a ruiva devia estar do lado de fora, com Morgana, ambas preocupadas. - Falando nisso, acha que devemos contar logo pra Morgana, ou você quer esperar um pouco mais?

Era uma criança feliz, todos os dias, mas aquele parecia estar muito mais que nos demais dias. Estava tão animada para ver sua mãe jogar que simplesmente não conseguia parar de falar sobre aquilo. Ainda na entrada do estágio, muitas pessoas que torciam pelo time de Lena usavam peças de roupas, luvas e outras coisas para aumentar a torcida tanto pelo time quanto pelos jogadores. E quando viu venderem perucas com cabelos da cor dos de Lena, infernizou Char até que ela comprasse uma para si, vestindo de prontidão. Estava pronta para torcer para sua mãe, mesmo não entendendo absolutamente nada de quadribol. E assim os fez, gritando toda vez que Lena sequer se mexia, comemorando gols na hora errada e as vezes por motivo algum. Usava o onióculos o tempo inteiro, acompanhando sua mãe como se estivesse bem de pertinho. Porém quando eu pai pediu o onióculos, não o negou, entregando na hora. O jogo então foi pausado, e seu pai se afastou rapidamente, deixando-a com Charlotte. - Onde ele vai, tia Chá? - perguntou, meio sem entender. E antes de ter resposta, um cara que estava com a roupa de outro time disse algo feio sobre a "moça de cabelo azul ter empacado o jogo". Morgana, com seu temperamento complicado, decidiu que seria sensato jogar seu copinho de suco no cara - não o acertando pela distância, apenas com respingos. - Caboca. - mandou, nada contente. Mas o homem olhou para ela de maneira torta e ela se escondeu nos braços de Charlotte, afinal era apenas uma criança. Ficou abraçada com Char por um tempo, mexendo em seu cabelo, mas de maneira inquieta. Queria saber onde seu pai estava e porquê a mamãe não estava jogando. Ao menos era bastante apegada com Charlotte, e se acalmava com sua presença, de maneira que se manteve calminha até saírem das arquibancadas e irem para uma área reservada. Se jogou no chão quando, ao entrarem, viu os cabelos azuis de Lena próximos aos cabelões de Lestrange. Caiu, mas se levantou rápido e correu até eles. - Não vai mais jogar? Você já ganhou, né? - chegou perguntando infantil, já se metendo entre eles e subindo na maca para se sentar. Ajeitou a peruca azul no próprio cabelo, sorrindo para a mamãe de maneira muito feliz por estar se sentindo tão bonita quanto ela.      

Foi impossível não soltar uma pequena risada quando ela disse que dariam conta de parir e criar a criança, mas que comer bem e ficar sem quadribol seria o fim do mundo. - Não vamos nos desesperar por isso agora, ok? Amanhã vamos ao St. Mungus e arrumar um medibruxo especialista dessa área pra te acompanhar, aí vamos ter uma noção melhor de como fazer tudo isso. - falou o que lhe parecia mais razoável no momento, tentando não pensar demais nas dificuldades por enquanto. Sorriu de leve quando ela concordou em falar com Morgana, acenando positivamente com a cabeça, e antes que pudesse dizer mais alguma coisa Charlotte chegou com a pequena, que se jogou no chão para correr até eles, fazendo o sorriso em seu rosto se alargar. Quando ela sentou-se ao seu lado, Lestrange a pegou por baixo dos braços e a colocou sentada em suas pernas, para que ela ficasse um pouco mais alta. - Na verdade, Lena não vai poder jogar por algum tempo, mas é por um bom motivo, um que acabamos de descobrir. - disse para a menina, olhando em seus olhos, e então voltou-se para a esposa. - Quer contar a ela, caríssima? - contar a novidade, ele esperava, talvez ajudasse um pouco a cair a ficha para ela. Seus olhos se voltaram então para Char, chamando-a com um gesto para que se sentasse ali também, ao seu lado.

Seu coração novamente disparou quando Elaena contou, como se estivesse ouvindo de novo pela primeira vez, talvez a ficha ainda não tivesse realmente caído para ele também. Acompanhou Charlotte na risada com a pergunta de Morgana, em seguida rindo também das palavras da ruiva, e antes de responder à filha abraçou a amiga e lhe devolveu o beijo no rosto. - Obrigado, caríssima. - falou, contente por poder compartilhar também aquele momento com ela, que esteve junto de si em tantas coisas importantes de sua vida. Voltou-se então para Morgana, fazendo um carinho em seu rosto para lhe chamar a atenção. - Não, Morgana, o Jota não vai trazer seu irmãozinho. Ele é agora como uma sementinha na barriga de Lena, vai crescer aí dentro e depois nascer. Lembra da sua mãe Hilde? Você veio da barriga dela, desse jeito. - tentou explicar, calmamente.